14.4.08

ANNABEL LEE

    Foi há muitos e muitos anos já,
    Num reino de ao pé do mar.
    Como sabeis todos, vivia lá
    Aquela que eu soube amar;
    E vivia sem outro pensamento
    Que amar-me e eu a adorar.

    Eu era criança e ela era criança,
    Neste reino ao pé do mar;
    Mas o nosso amor era mais que amor --
    O meu e o dela a amar;
    Um amor que os anjos do céu vieram
    a ambos nós invejar.

    E foi esta a razão por que, há muitos anos,
    Neste reino ao pé do mar,
    Um vento saiu duma nuvem, gelando
    A linda que eu soube amar;
    E o seu parente fidalgo veio
    De longe a me a tirar,
    Para a fechar num sepulcro
    Neste reino ao pé do mar.

    E os anjos, menos felizes no céu,
    Ainda a nos invejar...
    Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
    Neste reino ao pé do mar)
    Que o vento saiu da nuvem de noite
    Gelando e matando a que eu soube amar.

    Mas o nosso amor era mais que o amor
    De muitos mais velhos a amar,
    De muitos de mais meditar,
    E nem os anjos do céu lá em cima,
    Nem demônios debaixo do mar
    Poderão separar a minha alma da alma
    Da linda que eu soube amar.

    Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
    Da linda que eu soube amar;
    E as estrelas nos ares só me lembram olhares
    Da linda que eu soube amar;
    E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
    Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
    No sepulcro ao pé do mar,
    Ao pé do murmúrio do mar.

    Fernando Pessoa

1.2.08

E vai começar o Carnaval!

Acabou que vou ciscar aqui pelo Rio mesmo! Nada de Salvador, Recife ou Búzios (bleh)!

A pio que mais ouço nas últimas semana é: "Vai ficar TODO MUNDO no Rio este ano!"

Se for verdade, daí (não) vai sair boa coisa!

Tô numa fase menos amável e mais pinto... "efeito confete".

Andei meio afastado do poleiro por conta de uns probleminhas de saúde no ninho.


Sei não, mas esse carnaval vai dar é pano pra blog.


Amanhã (hoje), a boa é já começar a mil com Vem ni mim, Concentra e Azeitona!

Às, frangas, galinhas, galos e pintos foliões,

Piu!

17.1.08

ô, abre alas, que eu quero piar!!!

O galinheiro carioca está em festa!

O pré-Carnaval do Rio dá sinais de que, seguindo a tendência dos últimos 3 anos, estamos diante de uma ressurreição!

Segue, para os pintos, galos, franguinhas e galinhas de plantão, um guia da folia na Cidade Maravilhosa.

O restante do guia, a partir do dia 2 de fevereiro, deixo pra depois!

Piu!



Dia 1º/02 - Sexta

Vem ni mim que eu sou Facinha, das 17 às 21h
R. Prudente de Moraes, 10 (Ipanema)

O bloco sai - ou melhor, fica - no local já conhecido como Largo da Facinha: Praça Gal. Osório esquina com Prudente de Moraes, em frente à Casa da Feijoada. De um tempo pra cá a qualidade musical caiu bastante. "Desfila" também na terça.

Empurra que Pega
Percurso: Praça Cazuza, seguindo pela Av. Ataulfo de Paiva até a Rua Carlos Góis
Bairro: Leblon
Horário: das 17 às 22h

Rola Preguiçosa, das 18 (ou 19) às 22h
Av. Epitácio Pessoa esq. com Maria Quitéria (Lagoa)

O bloco desfila pela Avenida Epitácio Pessoa, entrando em Ipanema e seguindo pela Rua Farme de Amoedo, até a dispersão em frente ao bar Bofetada. Cores: branco e laranja.

Concentra mas não sai, às 20h
Rua Ipiranga 54 – Bar Severyna (Laranjeiras)

Esse foi o primeiro bloco a ter essa idéia espetacular: ao invés de desfile, ele só tem a concentração. Nada de ficar horas perambulando pela cidade cantando uma só música e sofrendo para arrumar um lugar para ir ao banheiro. A animação decaiu depois que o Gallotti deixou de tocar lá, tem sido meio irregular, às vezes muito bom, outras apenas médio.

Vale dar uma passada por lá, mas guarde suas energias para o ápice do carnaval carioca, o Cordão da Bola Preta.

Azeitona sem caroço, às 20h
Bar Azeitona - esquina Rua Dias Ferreira e Bartolomeu Mitre (Leblon)

O animado bloco do Leblon reúne gente de todas as idades para desfilar pela Zona Sul.

Bloco do Bip Bip, às 24h
Rua Almirante Gonçalves (Copacabana)

O bloco do Bip Bip é uma bagunça. Saindo pontualmente no primeiro minuto do sábado, a turma do Bip pega os intrumentos e dá uma voltinha no quarteirão cantando marchinhas, sem corda, com o Alfredinho dando esporro e cada hora um sujeito diferente puxando uma música. Não tem nem carro de som vagabundo. Uma anarquia total. Resumindo: é um barato. Muita gente vai fantasiada. Cores: vermelho e branco.

Pra quem não sabe, o Bip-bip é um boteco em Copacabana, há várias décadas um dos principais redutos de samba da cidade, frequentado por grandes sambistas e chorões. Alfredinho é seu querido e folclórico proprietário.

10.1.08

Cartas de Amor.

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor
Se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu
Tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor,
Se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca
Escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas..."


Um pinto amável este tal Fernando Pessoa.

Comecei com palavras dele para a certeza de começar certo. E porque hoje andei lembrando de umas cartas de amor que escrevi.

Ler cartas antigas é um barato raro. Se forem daquele amor do passado, então!

É incrível a sensação de reviver mentalmente os momentos daquelas cartas, pois não chega a ser, de fato, um retorno. Por alguns segundos, é possível viajar por um turbilhão de imagens, sentimentos, cheiros, toques, carinhos. Dependendo do desfecho, também podemos passar por uns e outros espinhos.

E o coração dispara, o peito aperta, a garganta seca. Talvez pela segurança do presente, ou pelo gostinho de 'quero mais' da volta à realidade, aquela saudade gostosa que faz passar um filminho (em Super 8) na frente dos olhos, semicerrados de nostalgia.

Normalmente, logo depois de restabelecer os sentidos, pensamos sobre o tempo, as bifurcações da vida. . . Há quem especule internamente sobre como seria "se...", "se...", "se..." . . .

Essa ridiculez deliciosa das cartas que já escrevi me faz querer apaixonar mais, de novo e sempre. Ter outras cartas para ler, novas estórias a escrever, outras linhas de memória e vida para percorrer, outros amores a amar.

O galinheiro está cheio. Sempre. Quem não pia silencia.


Às minhas franguinhas e pintos,

Piu, Piu! É duro ser pinto.

7.1.08

Um pinto amável.

É duro ser um pinto amável nos dias atuais. Veja o cenário:

O poleiro está em polvorosa como nunca. Parece haver cada vez mais galinhas! E galos de briga também.

Elas reclamam que eles só querem saber de brigar e contar vantagem. E generalizam.
Eles só querem saber de brigar e contar vantagem.


Muito cacareja-se por aí a respeito da escassez de pintos amáveis. Realmente, não há muitos. Haveria mais, não fosse pelo fenômeno que se alastra como alpiste no terreiro em dia ensolarado: muitos pintos estão se transformando em galos brigões. É a mão invisível do mercado!

Para ser um pinto amável é necessária muita força de vontade, paciência e uma pitada de sorte.

Dizem que as galinhas não enxergam muito bem. Talvez seja isso. Então, é preciso saber piar com jeitinho, pois elas gostam de ouvir. E como!

Vamos ver como se sai um pinto contando sua vida, compartilhando o dia-a-dia de quem, por pouco, não foi parar na frigideira.

Piu, Piu. É duro ser pinto.